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HABILIDADES NECESSARIAS PARA UM PSICOLOGO...

Este é o primeito texto de uma série de pequenos artigos sobre as habilidades necessárias a um psicólogo para que ele exerça sua profissão de maneira adequada. As habilidades  mais importantes.
A habilidade de se comunicar porque falar e ouvir são as principais ferramentas de trabalho do psicólogo. É por meio da comunicação que o profissional avalia as dificuldades do cliente e é por meio da comunicação que intervém nessas dificuldades (interpretando, sugerindo, questionando, etc). Além da importância na atividade profissional em si, as habilidades de comunicação são o cartão de visitas do psicólogo: são a única base que potenciais clientes têm para avalar a qualidade do profissional.
“Comunicar-se” é, na verdade, um conjunto de habilidades. Dentro desse conjunto, pretendo discutir a capacidade de utilizar o português correto na fala e na escrita, de se expressar de forma amigável, de adaptar a linguagem ao público, de manter uma postura não-verbal coerente com a fala, e de ouvir atenta e criticamente (esta habilidade será tratada no segundo texto desta série).
UTILIZAR O PORTUGUÊS CORRETO
Um psicólogo tem que utilizar as normas cultas da língua. Deve saber escrever e falar corretamente. Isso demonstra que ele possui conhecimentos e é confiável. Um psicólogo que fale “hoje nós vai trabalhar aquele assunto” não inspira respeito. Escrever corretamente é também importante. Não raro o psicólogo tem que produzir laudos, pareceres, ou outro tipo de comunicação sobre seu trabalho. A capacidade de organizar as informações e escrever textos coerentes também é uma medida da qualidade do psicólogo.
A expressão correta não depende apenas do conhecimento das normas cultas da língua. A base para uma boa expressão está na capacidade de integrar os diferentes conhecimentos e ser capaz de expor o que for relevante de maneira sintética. Em outras palavras, uma boa comunicação depende de pensamento e reflxão. A melhor maneira de treinar essa habilidade é lendo e reescrevendo o que foi lido.
EXPRESSAR-SE DE MANEIRA AMIGÁVEL
Como norma, o psicólogo geralmente lida com pessoas passando por dificuldades. São pessoas que precisam de um profissional que forneça a elas a ajuda que não conseguem em outros lugares. Por isso, o psicólogo deve se comunicar de forma amigável, deixando claro para seus clientes que sua função é ajudá-los. Mesmo quando deve falar sobre algo delicado, ou chamar atenção para um comportamento do cliente que não foi adequado, é necessário ser respeitoso e não punitivo.
Cortes bruscos, tom de voz alto, ironia, desdém, são formas de expressão inadequadas. O cliente pode interpretá-las como sinais de cansaço, falta de paciência ou raiva do psicólogo. Essas interpretações têm grandes chances de levar ao fim da terapia e a uma atitude negativa do cliente com os psicólogos de modo geral.
ADAPTAR A LINGUAGEM AO PÚBLICO
As normas da língua sempre devem ser observadas, mas as palavras escolhidas na comunicação devem ser compreensíveis ao interlocutor. Utilizar palavras rebuscadas com pessoas sem estudo pode dar a impressão de que o psicólogo está esnobando ou que é inatingível. Escolher palavras simples para pessoas estudadas, por outro lado, pode dar a impressão de ignorância e falta de qualidade profissional.
Um psicólogo deve se adaptar ao público, ser um pouco como um espelho do seu cliente. Para isso, precisa ter conhecimentos o suficiente para se comunicar com qualquer tipo de pessoa.
POSTURA NÃO-VERBAL COERENTE
Alguns estudos afirmam que a maior parte da comunicação entre duas pessoas ocorre por canais não-verbais. Uma fala alegre não é levada a sério quando acompanhada por uma postura contraída. Uma afirmação é interpretada como falsa se dita em tom de voz baixo ou sem contato olho no olho.
O psicólogo precisa atentar para seu próprio comportamento não-verbal. Além de se esforçar por manter uma postura coerente com as palavras usadas, a auto-observação ajuda o psicólogo a conhecer sua reação às falas do seu interlocutor. Coluna ereta, olhos nos olhos, braços sempre descruzados, acenar que “sim” com a cabeça, não realizar comportamentos repetitivos são sinais não-verbais de confiança, de que se está atento e interessado. O cliente percebe tais sinais, ainda que de forma inconsciente.
No primeiro texto dessa série, comentei sobre a importância da habilidade de se comunicar. Grande parte dessa habilidade está em ouvir o que o interlocutor tem a dizer. É ouvindo, prestando atenção ao cliente, que o psicólogo coleta os dados que servirão como base para o planejamento de sua intervenção.
A terapia é sobre o cliente: o psicólogo é um profissional contratado para lidar com as dificuldades e dúvidas de outra pessoa. Todo o processo terapêutico tem como objetivo auxiliar o cliente a encontrar as respostas que ele procura e a mudar os comportamentos que mantém ou produz sas dificuldades. A terapia, portanto, não é um lugar para o terapeuta exibir suas experiências ou conhecimentos. O cliente é o centro, e o profissional deve orbitá-lo humildemente.
Ouvir não é apenas olhar para o cliente, apenas prestar atenção. São necessárias posturas intelectuais e comportamentais adequadas. Neste texto, vou discutir essas posturas, começando pela comportamental. Em seguida, vou falar sobre empatia. 
POSTURA COMPORTAMENTAL
O cliente PRECISA saber que o psicólogo está ouvindo. Acredito que a maioria das pessoas que procura um psicólogo o faz porque não tem com quem conversar abertamente, ou porque tem medo de conversar com as pessoas disponíveis. O psicólogo, então, cumpre o papel de ser aquele que ouve com atenção.
Olhar para o cliente, expressar-se não-verbalmente em coerência com o que ele diz, balançar a cabeça para cima e para baixo, olhar nos olhos (não fixamente), manter braços descruzados, são algumas posturas não-verbais que indicam interesse. Muitos clientes podem se beneficiar grandemente apenas com essa demonstração de interesse. Pratique-as com colegas e familiares.
Falar abertamente frases como “entendo”, “imagino como foi difícil”, “nós vamos lidar com esse problema”, etc, são indicativos bastante fortes de que se está prestando atenção. Outros poderosos indicativos são paráfrases e resumos do que o cliente disse. Use-os à vontade, apenas cuidando para não se tornar enfadonho.
POSTURA INTELECTUAL
O que pode fazer um psicólogo que ouve e não compreende o que ouviu? Absolutamente nada. É fundamental ser capaz de interpretar, abstrair e sintetizar os elementos mais importantes do que o cliente diz. Além disso, é necessário relacionar esses elementos com o que se conhece de teoria. A integração do que o cliente descreve com o conhecimento teórico do psicólogo fornece as bases para o planejamento da intevenção.
Para ouvir, em outras palavras, é preciso entender. A melhor maneira de treinar essa habilidade é por meio de muita leitura, muita conversa e elaborar resumos dessas leituras e conversas. Esse treinamento, além de melhorar a prática profissional, soma conhecimentos ao psicólogo. Estudar, raciocinar, refletir, criticar, pensar, enfim, são habilidades fundamentais e necessitam ser exaustivamente treinadas.
EMPATIA
Outra habilidade importante no repertório do psicólogo é a empatia: colocar-se no lugar do outro. Ter empatia pelo cliente, conseguir sentir o que ele sente em algum grau, pode ter efeitos extremamente positivos na terapia. Além de aumentar o grau de entendimento do que o cliente diz, também auxilia no planejamento da intervenção.
Alguns autores dizem que a empatia tem um componente intelectual (um esforço para se colocar no lugar do outro) e um componente emocional (sentir-se como o outro). Imagino que treinar o componente emocional seja tarefa difícil. Por outro lado, é possível imaginar-se no lugar do outro; acredito que treinar o componente intelectual da empatia automaticamente fará desenvolver o componente emocional.
Nessa série de textos, já discuti as importantes habilidades de se comunicar e de ouvir. Um bom psicólogo deve também ter conhecimento teórico. A teoria é o primeiro passo para uma prática bem sucedida, é com base nela que o profissional inicia seu trabalho de avaliação e intervenção. Mas, o que é preciso conhecer?
Toda abordagem psicológica tem, basicamente, os mesmos elementos: uma concepção filosófica do que é o homem, um corpo de hipóteses do porquê o homem é como é, teorias sobre como o homem e o mundo se relacionam, e técnicas de intervenção baseadas nos três elementos anteriores (esses elementos serão discutidos na série sobre “Como escolher uma abordagem”).
Um bom psicólogo deve conhecer detalhadamente cada uma dessas quatro características de uma abordagem. Elas fornecem as ferramentas para a avaliação e intervenção psicológicas. Um psicólogo sem conhecimento teórico, ou que conhece pouco de cada teoria, dificilmente conseguirá avaliar seu cliente de maneira adequada, e terá dificuldades em plajenar uma intervenção eficiente.
Aplicar Psicologia não é aplicar senso comum. As teorias são resultado de décadas de pesquisa e reflexões sobre o comportamento humano e sobre como modificá-lo. É a partir delas que o psicólogo cria hipóteses e as verifica. Finalmente, as teorias constituem o conhecimento que o psicólogo tem disponível sobre o ser humano; um conhecimento baseado ora em características gerais das pessoas, ora em suas particularidades.
Depois de formado, quando lida com um caso inédito, um psicólogo muitas vezes não tem a quem recorrer senão a teoria. Deve saber buscar o material, interpretar as idéias e transformá-las em práticas a serem aplicadas. Felizmente, existe uma infinidade de materiais sobre diferentes psicopatologias e modos específicos de tratamento baseados em abordagens. O acesso a esses materiais é relativamente fácil.
Prova da importância do conhecimento teórico é a freqüente busca de profissionais recém formados por cursos de formação e especialização. Apesar de esses cursos serem importantes, é na graduação que existe a inestimável oportunidade de entrar em contato com a maior quantidade de teorias possíveis. A melhor forma de desenvolver conhecimento teórico é estudando textos originais dos autores preferidos. Os professores podem ajudar nessa tarefa, indicando livros que são considerados clássicos e, principalmente, fornecendo ferramentas de como buscar literatura adequada.


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