Análise do filme: O Lenhador [BR]O filme O Lenhador conta a história de Walter que após doze anos preso por pedofilia, sai em liberdade condicional. Ele vai morar em uma cidade pequena, arruma um novo emprego e em seguida uma nova namorada. No entanto, os fantasmas do seu “pecado” o perseguem no seu recomeço. Neste momento, ele está passando por um processo de reinserção social e enfrentando fora dos muros da prisão um mundo adverso e repleto de pré-conceitos. Precisava lidar com a sua “doença” e ao mesmo tempo lidar com as pressões sociais daqueles que esperavam que a qualquer momento Walter fosse cometer os mesmos erros. Considerado por todos um monstro, ele precisava estabelecer uma confiança acerca de suas potencialidades realizadoras e inatas. Durante todo o filme é perceptível a constante luta de Walter para se tornar uma pessoa “normal” que para ele era ser capaz “de olhar para menininhas, até conversar com elas, e não pensar em...” abusar delas. Trata-se de uma busca para ser tornar um Ser humano. Remetendo a visão de homem rogeriano todos tem essa capacidade de alcançar a sua plenitude, assim essa abordagem considera que o ser humano, assim como os organismos em geral, possuem uma tendência inata para o desenvolvimento e expansão harmônicos de si mesmo, ou seja, esse desenvolvimento é sempre em direção a uma completude, abrangendo as suas capacidades inatas de criatividade e auto-avaliação, sendo que todos os organismos estão sempre em constante auto-construção. Dessa forma, o homem é “um ser concreto, situado historicamente, criador e transformador da natureza e de si-mesmo, através das relações que estabelece com outros homens” (FREIRE, 1987 apud HOLANDA, 2003). Só que esse crescimento em direção a completude só acontece quando se dá condições para isso, no caso do personagem do filme as condições não eram as mais propicias nem na sua relação com terapeuta, nem em suas relações sociais. Na pessoa da namorada Vicki surge a possibilidade de um recomeço e na efêmera relação existente entre ele e uma desconhecida menina ele percebe que tem sim capacidade de auto-construção.
Essa cena é uma peça chave do filme, onde Walter demonstra profunda empatia pela menina que é abusada sexualmente pelo pai. Neste momento, percebe-se que ele pode sim deixar o papel de monstro, o Lobo Mau e alcançar o perseguido status de Lenhador que rasga a barriga do Lobo e salva a Chapeuzinho Vermelho, o que no filme foi representado pela cena onde ele bate violentamente em outro pedófilo. No que se refere à relação terapêutica estabelecida no filme, a personagem não encontra condições básicas (compreensão empática, consideração positiva incondicional, congruência, etc) para a reorganização de sua personalidade. O estado de congruência do terapeuta delimita uma maneira de ser da pessoa na relação. Trata-se do que Rogers define por autenticidade, sinceridade” (HOLANDA, p 92). O terapeuta deve se mostrar presente na relação e “ser o que realmente é”, não se escondendo através da máscara do conhecimento, com isso o cliente experimentará um sentimento de segurança que dará possibilidade de crescimento. A outra condição refere-se à forma como se percebe o outro, assim a aceitação positiva incondicional é positiva, prospectiva e acima de tudo um interesse no ser do outro. Na terceira condição “o terapeuta deve experimentar uma certa compreensão empática em direção ao cliente, a partir do ponto de referencia deste.” Pode-se dizer então que dar essas condições durante a relação terapêutica é partir para um processo pelo qual se busca o Ser da pessoa, que nada mais é que sua identidade definida a partir das suas relações.
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